quinta-feira, 31 de março de 2011

Labirinto

Meu labirinto é um círculo fechado.*

Imagens, desenhos, marcas...**

Querem que eu veja,
que lembre, que guarde.

E assim desaprendendo a ver,
desaprenda a julgar,
desaprenda a agir,
desaprenda a ser,
para ser o que querem que eu seja.

E dizem: rápido.
Sem dar motivos ou razões.

E dizem: mais.
Mesmo quando há o suficiente.

E dizem: vença.
Ainda que não haja vitória na guerra.

E dizem que o ideais morreram.

Porque ninguém diz basta.

Mas os ideais nunca morrem.

O que morre é capacidade de ver.

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Notas do autor:

*The Waste Land, T. S. Eliot. I. THE BURIAL OF THE DEAD
"I see crowds of people, walking round in a ring".
(Eu vejo uma grande multidão, dando voltas em um círculo.)

*Ortodoxia, Chesterton. II- O Maníaco
Um círculo pequeno é exatamente tão infinito quando um círculo grande; mas, embora seja exatamente tão infinito, não é tão grande. Da mesma forma a explicação insana é exatamente tão completa como a do sensato, mas não tão abrangente. Uma bala é exatamente tão redonda como o mundo, mas não é o mundo.
(...)
No momento em que a mera razão entra em movimento, ela se move no velho sulco circular; ele dará voltas e mais voltas em seu círculo lógico, exatamente como um homem num vagão de terceira classe do Inner Circle 4 ficará girando à toa nessa linha, a não ser que execute o voluntário, vigoroso e místico ato de descer na Rua Gower.


**Rilke, A Pantera
O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.
Fonte: Rilke, R. M. 1993. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1907

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